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Maria Madalena (Tia Madá)

União de Capoeira do Distrito Federal (Unidade Morro da Cruz)

 

“O pessoal daqui tem um coração que vocês não têm noção”. (Tia Madá)

 

Madalena tem aquela “estranha mania de ter fé na vida”. Não a fé que espera as portas se abrirem, mas a fé que põe o pé na estrada e vai de porta em porta. Sempre movida pela vontade de não ver crianças usando drogas, Madalena se transformou na querida Tia Madá. Ter um filho dependente químico foi a semente de todo o trabalho que ela realiza, desde 2016, no Morro da Cruz. “Nenhuma mãe merece a dor de ver um filho no fundo do poço”, diz ela.

 

Do lixo à ginga

Hoje, as aulas de capoeira e ações de auxílio para alimentação, vestuário, saúde e educação acontecem, gratuitamente, na União de Capoeira do Distrito Federal (UCDF), no galpão cedido por Sr. João. No começo, as aulas eram na rua. Um dia, ela se deparou com oito crianças bebendo vodca em um lixão do Morro da Cruz. Puxou conversa, perguntou se queriam aprender capoeira e logo veio o acordo: aula todo domingo em troca de estudar, não entrar em gangues, não usar drogas nem beber. No segundo domingo, ela combinou de levar ovos de Páscoa. As oito crianças viraram 15. Como se adivinhasse, Madá conseguiu 20 saquinhos. Seu método? Pedir de sala em sala no seu local de trabalho. Se chegou a ir em todas as bocas de fumo do Jardim ABC para saldar dívidas do filho com o tráfico, por que não pedir ovos de Páscoa para os pequenos iniciantes na capoeira?

 

Confiança e credibilidade

Madá tem o dom de despertar confiança e credibilidade. Quando ela aplica sua metodologia, os frutos aparecem. “Quem tem amigo, tem tudo”, diz ela, que tem muitas mãos solidárias por perto, a começar por Tiago, “padrinho” do projeto. Seus maiores colaboradores moram na comunidade e formam uma rede tecida no amor, na força e na coragem. Todo mês entrega uma cesta básica para as mães. “Temos mães com depressão, mães que sofrem violência doméstica, crianças abusadas por padrastos, gravidez precoce, além de inúmeros casos de bullyng na escola. Saio do ABC às 5h da manhã e vou de casa em casa conversar com as famílias e, assim, vamos mudando a mente dos pais”.
O primeiro sonho de Madá era ser historiadora. Depois foi o balé, logo descartado por questão de dinheiro. A capoeira surgiu quando ela foi morar no ABC e seu vizinho era capoeirista. Para comprar seu primeiro abadá, coletou com as amigas quase um caminhão de latinhas. “ Nunca mais saí nem desisti um dia sequer da capoeira e até hoje pratico com um mestre. Eu digo para as crianças: capoeirista não é fraco; desistir é para os fracos”.

 

Dialogar é preciso

Já houve casos de preconceito com a capoeira entre pessoas da comunidade, como ela mesma diz, por falta de conhecimento. Para lidar com esse e outros desafios, ela sempre aposta no diálogo. Basta conversar, diz essa mulher que traz no sangue a marca da ginga, de saber se movimentar e desviar do golpe com graça e leveza. Sua face historiadora se ilumina ao explicar que a ginga era como os escravos disfarçavam os golpes de luta em forma de dança. Quando ela diz que, aos poucos, os pais vão tendo mais consciência por meio do diálogo, podemos confirmar o quanto Madá faz da ginga o seu jeito de levar a vida, encarando os desafios e respondendo aos golpes de cabeça erguida. Mas nunca sozinha. Como na capoeira, o interessante é a roda.

“Deus sabe que não posso ir embora sem realizar o sonho de fazer o projeto virar uma Ong e formar crianças para serem professores de capoeira. Aqui se trabalha por amor e sou a pessoa mais feliz do mundo. Tenho alegria todos os dias e gosto de todos da mesma forma”. 

União de Capoeira do DF (UCDF) – Morro da Cruz 

Atividade principal: Aulas de capoeira para crianças e adolescentes.

Diretora: Maria Madalena dos Santos (Tia Madá)

Endereço: Chácara – GALPÃO DA FEIRA, Núcleo Rural Morro da Cruz

Funcionamento: Sábados das 8h às 12h

E-mail: mr.madalena2@gmail.com