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Margot Ribeiro

CONGO NYA

 

“Margot é força e a minha força vem da esperança”. (Margot Ribeiro)

 

Margot chegou em São Sebastião quando a cidade era ainda uma pequena agrovila, precária ao extremo. Nascida no Piauí, em Cristino Castro, depois da morte da mãe, ela e os irmãos decidiram arriscar uma vida nova no Planalto Central. Moraram por um tempo no Gama e logo depois foram para São Sebastião. Da primeira infância, nada ficou em sua memória. Só a necessidade de ter que lutar muito para sobreviver, trabalhando como doméstica aos 12 anos.

“Não tive infância porque eu fui uma jovem trabalhadora. Não estudava e sinto falta de passar pelas brincadeiras de criança. Ser guerreira demais é ruim na infância”, diz Margot, que sempre foi movida pela ideia de “trabalhar por um amanhã melhor” – frase que se tornou um lema em sua vida.

 

Congo Nya é África livre

Filha de pais analfabetos, Margot vê a falta de acesso à educação um dos maiores problemas da sociedade. Sem se deixar abater pelas pedras no caminho, ela foi crescendo junto com a cidade e há 21 anos desenvolve atividades culturais no Ponto de Cultura Congo Nya, com foco exclusivo na cultura afro. A proposta do Congo Nya teve início na Guiana, no norte da América do Sul, onde existe uma instituição com o mesmo nome. “A gente se juntou e registrou a Associação com ajuda do Sebrae”, conta Margot. “Eu sempre tive muita esperança e vontade de trabalhar com algo que não seja meu, mas que atinja um número significativo de pessoas”.

 

Educação transforma

Ela mesma diz que se agarrou “com unhas e dentes” ao Congo Nya e se sente realizada. Atualmente produtora cultural do Congo Nya, Margot relata que tudo o que sabe e faz foi aprendido na prática – “todo mundo junto, carente ajudando carente”. Abrindo caminho com a força e esperança que lhe são peculiares, Margot foi estudando e, ao mesmo tempo, elaborando projetos para os editais do FAC, emenda parlamentar e outros. “Eu sou, hoje, a mulher que eu sou, por conta desse trabalho social. Adoro fazer isso. Terminei o Ensino Médio com a ajuda do Congo Nya. Fiz graduação em Letras também, e estamos aí na luta”.

Nada está perdido, continua. “Você está ali hoje, sem rumo, trabalhando desde criança e aí você dá um giro. A educação transforma, né? Se você pensa que não tem saída, então não vai ter mesmo. Mas se você começa a fazer, você fala: poxa, claro que tem saída, o caminho é esse, vamos lá, vamos fazer, vamos nos educar, porque esse é o caminho”.

 

Um pouco da trajetória

Em 2002, na Escola da Inclusão da Cerâmica São Paulo (CEF), os integrantes do Congo Nya começaram seu primeiro desfile de moda. Depois vieram as atividades esportivas, o reforço escolar e as oficinas de costura. “A gente usa quadras de esportes para esporte, mas também para os desfiles”, explica Margot. No início, não havia máquinas de costura. As roupas eram emprestadas das embaixadas.

A prática de costura só começou depois de receberem a doação de algumas máquinas. Hoje têm uma grife própria, que vem se tornando cada vez mais conhecida: a Afro Explo. Os clientes encontram nas estampas dessa grife um diferencial ligado à identidade, à história da África. Muitas alunas tornaram-se costureiras, aumentaram a renda, pararam de trabalhar fora de casa e hoje podem ficar mais com seus filhos. “Para fazer as oficinas de futebol, tivemos o apoio do Ministério dos Esportes, com a parceria do UniCEUB, que trouxeram monitor e material.

 

Desafios

Margot se ressente da falta de frequência de editais para projetos sociais, o que é um desafio grande para dar seguimento às atividades sem interrupções. Por exemplo, a oficina de percussão não está acontecendo neste momento. “Nós estamos sem os recursos para fazer todas essas coisas. Conseguimos formar vários percussionistas, mas hoje eles trabalham, têm suas famílias, não podem ficar aqui sem uma estabilidade. Infelizmente, a música não é valorizada como deveria. Mas, se a gente tiver um projeto, podemos contar com uns 20 percussionistas para tocar. Mulheres e homens. Eles vêm um final de semana, fazem um som e vão embora, mas para participar de um projeto mesmo precisa ter recursos”, desabafa Margot.

 

Alegrias

“Eu sou muito grata porque me sinto uma pessoa transformada e vejo a comunidade transformada. Aprendi muito com o Congo Nya. Tudo que eu aprendi foi aqui nessa instituição. Antes, as meninas usavam o cabelo alisado. Hoje em dia, elas assumem seu black power, sua identidade. Vemos meninos que fizeram oficina com a gente desde pequenos, hoje já têm filhos…isso é muito massa, muito legal. É algo que nos traz alegria”, comemora.

 

Sonhos e valores

Igualdade, respeito e identidade são os valores com os quais Congo Nya tem construído sua história. Daqui para frente, Margot manifesta seu sonho de conseguir acessar projetos mais robustos e alcançar um número maior de pessoas de forma continuada. Passar o bastão de liderança para outros e ficar na coordenação é também um desejo seu. “O que posso dizer aos que estão chegando é que procurem sempre manter a união e fortalecer nossa rede. Assim, somando forças, a gente vai longe”, conclui Margot. 

Instituto Cultural Congo Nya. Ponto de Cultura de São Sebastião

Atividade principal: Promoção da cultura afro, projeto de educação antirracista, desfile de moda, oficinas de percussão e corte costura.

Cofundadora: Margot Ribeiro

Endereço: Quadra 104, Conjunto 09, lote 7A. Residencial Oeste

Site: https://icongonya.wixsite.com/congonya 

E-mail: congonya.iccn@gmail.com