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Dilma Mendes

Biblioteca do bosque

 

“A maior transformação aconteceu comigo mesma. Hoje sou essa Dilma feliz”. (Dilma Mendes)

 

Dilma tinha 16 anos quando deixou Minas Gerais para tentar melhores condições de vida na promissora capital federal. Com as boas lembranças de uma infância feliz, o coração apertado e a convicção de um adulto, ela disse a sua tia Zélia, na rodoviária de Lontras: “eu prometo que, por onde eu passar, vou fazer tudo certo e a senhora nunca vai se decepcionar comigo; pode ficar tranquila”.

Por trás da certeza dessas palavras havia o propósito de um sonho bem claro. Dilma explica que sempre quis desenvolver projetos sociais: “E assim foi. Nesses 45 anos, fiz trabalho social em tudo que foi canto”. Dilma não esperou o tempo passar para cumprir a promessa que fez à tia. Ao chegar em Brasília, foi trabalhar em casa de família, no Lago Norte. Ficou 20 anos com eles, que hoje considera sua família também. “Se eu não tivesse esse trabalho social que comecei lá, até com meu patrão e outros moradores ricos me ajudando, eu não teria conseguido ficar. Acho que a saudade me teria levado de volta”, admite. “Quando eu cheguei, Brasília era um lugar estranho para mim, um mundo totalmente diferente do que a gente vivia lá no interior. Não é fácil deixar família, amigos e infância para trás e enfrentar o trabalho em uma casa de família com 16 anos”.

 

O sonho se torna real

Ter livros disponíveis para todos na garagem de casa é uma ideia antiga. Dilma faz isso desde 1982, ainda no Paranoá. “A Biblioteca do Bosque, como é hoje, na garagem daqui de casa, foi criada em 2005, quando viemos morar em São Sebastião. Quando nós chegamos, o bairro era carente de tudo, não tinha praticamente nada”. O casamento de Sebastião e Dilma também é um encontro de sonhos: “Meu marido e eu já tínhamos o objetivo de fazer um trabalho social, porque ele tem o mesmo pensamento que eu. Mas a ideia em si de criar a biblioteca foi dele, que na época era vigilante. Ele conhecia o Projeto Cultutal T-Bone, que fez a primeira doação de livros e estante”.

Da biblioteca comunitária para a formação de um grupo de mulheres foi um pulo. Na verdade, houve um percurso. Dilma conta que Sebastião teve a ideia de criar uma Associação de Moradores e, por meio dela, criou a prefeitura do Bosque: “Logo depois criamos a biblioteca. Vimos a carência de livros, muitas crianças reprovavam na escola, a mãe trabalhava fora e não tinha tempo para ficar ensinando. A ideia deu certo, estamos aqui esses anos todos. A Biblioteca do Bosque hoje é um Ponto de Cultura, está sempre aberta, de domingo a domingo”. Sabendo o quanto a leitura pode transformar a vida das pessoas, Dilma foi agregando mulheres para conversar sobre a vida e ler literatura. “Muitas mulheres passam por diversos problemas, como depressão, por exemplo, e eu falo com elas sobre a importância do livro e da leitura em nossas vidas, que o livro traz mais conhecimento e até um conforto mesmo, pois a leitura preenche as carências”, explica.

 

Novos tempos

No início, a biblioteca contava com a ajuda de um professor para reforço escolar. Na época, não havia acesso à internet e a biblioteca foi um grande apoio para as crianças nos primeiros anos. “Hoje a coisa mudou. Com a chegada da internet e das lanhouses, o movimento foi diminuindo. A biblioteca deixou de ser um ponto de pesquisa escolar. Antes as professoras mandavam as crianças para cá para pesquisar. Ainda frequentam aqueles que gostam mesmo da leitura, da literatura, mas para pesquisar são poucos”, confessa Dilma, que vê na biblioteca a possibilidade do encontro. Poder conversar ao vivo com mulheres e ter a literatura como base tem sido uma nova dinâmica da Biblioteca do Bosque.

 

Valores que sustentam

“A gratificação de estar fazendo esse trabalho é muito grande e eu falo sempre que é como uma terapia na minha vida. Faço tudo com boa vontade e talvez por isso eu vejo mais as alegrias do que os desafios”, continua Dilma, ressaltando que o casal não está sozinho: “Muita gente nos ajuda aqui. Temos muitos parceiros doadores, grupos como a quadrilha junina, os Amigos da Viola, a Folia de Reis… fazemos bazares e participamos dos eventos culturais do bairro. Nós realizamos a Feira Literária da Biblioteca do Bosque (FLIB) uma vez por ano e é quando um bom público aparece para prestigiar a literatura infantil, o teatro, a dança, a música. É um pouco cansativo, mas quando vemos os resultados, é muito satisfatório”.

Muitas crianças estudaram na Biblioteca do Bosque a vida inteira, algumas passaram no vestibular para a UNB e já estão formados. “Gosto de falar de Gabriel, que sempre vinha desde pequeno e ficava pelos cantinhos com um livro. Com os estudos, ele conseguiu dar uma condição de vida melhor para a mãe. Histórias como a dele é que mobilizam a gente”, recorda Dilma, emocionada.

 

Sonhos

Boa vontade é fundamental e não falta na vida de Dilma. O que falta é recurso financeiro, que também é imprescindível. “Vivemos de doação. A Biblioteca ainda não é registrada, estamos tentando criar um CNPJ. Hoje, a ajuda que temos é do Fundo de Apoio à Cultura (FAC/DF), que além da FLIB também apoia o projeto Sertão Sebastião”. O evento da FLIB chega a receber umas 200 crianças e é pensando nelas que Dilma deixa escapar um sonho: “Ah, eu queria muito oferecer na FLIB um lanche grandão para elas. Não tem nada, nem um brinquedo”.

 

Dilma feliz

Dilma é categórica ao dizer que a maior transformação aconteceu com ela mesma. “Posso me definir como a ‘Dilma feliz’, pois tenho uma família maravilhosa e amigos como se fossem da família, sabe? A gente tem essa convivência boa com todo mundo aqui, todos valorizam e respeitam nosso trabalho”.

Perguntamos a Dilma para quem ela faria a dedicatória de um livro sobre as histórias que já viveu. Ela responde, sem pestanejar: “Dedicaria a mim mesma, porque eu trabalhei muito. Com alegria, boa vontade e sem dinheiro. Mesmo assim, conseguimos arrecadar com os bazares e dar cesta básica todo mês, graças a Deus! ”. Durante a entrevista, alguém por perto não se conteve e testemunhou: “todo mundo vem bater aqui para pedir ajuda, medicação, qualquer coisa é com Dona Dilma”.

Para quem vem depois dela, Dilma faz um pedido: “O que a gente quer é que os jovens continuem fazendo esse importante trabalho social e cultural. Quem mora na periferia sabe que tudo é difícil de ter acesso. A garagem daqui de casa está sempre aberta, todos os dias, com esses livros todos, para quem quiser vir, pesquisar, ler”.

Biblioteca do Bosque 

Atividade principal: Incentivo à leitura, palco da FLIB (Feira Literária da Biblioteca do Bosque).

Fundadora: Dilma Mendes 

Contato: (61) 3339-4037 

Endereço: Avenida 02, quadra 18, casa 16. Residencial do Bosque

Funcionamento: Segunda a sexta das 8h às 18h

Email: dilma.mendes06@gmail.com

Material extra:

https://www.facebook.com/share/r/XccfCwyf57qA8eDi/?mibextid=D5vuiz

https://www.youtube.com/watch?v=FNvzbPtxHdQ&t=4s

https://www.instagram.com/reel/C5gM93xuZ8L/?igsh=MTFreGF0aXFxbGhpNg==