Escolha uma Página

Daniela Couto

Instituto Garatuja de Dança e Cidadania

 

“Eu quero que outras meninas, em situação vulnerável, também possam receber esses aplausos”. (Dani Couto)

 

Da criança que amava coreografar com bonecas na frente da TV, até florescer bailarina, nutricionista, idealizadora e fundadora do Garatuja Daniela esteve às voltas com a dança da vida. Hoje, a principal atividade do Garatuja é a dança contemporânea, seguida do balé clássico e das oficinas de cultura, com incentivo à leitura e à escrita criativa, raciocínio lógico, artesanato e música.

Filha de mineiros, nasceu em Brasília e tem ricas lembranças da infância – a maioria das brincadeiras na rua. Corria e subia em árvores com os primos, desenhava com cacos de giz colorido da tia professora e contemplava os eucaliptos na Estrada Parque do Guará, onde morava. Seu pai vendia bilhetes de loteria e a mãe trabalhava como empregada doméstica e babá. “Meu pai ficava horas ouvindo música caipira em sua vitrola e quando aprendi a mexer nos discos de vinil, ouvia de música infantil a Marina e Simone”, conta Daniela.

 

O encontro com a dança

Na infância, Dani lutou muito contra a timidez. A mãe, percebendo o quanto sua menina de 10 anos gostava de dançar, matriculou-a em uma academia perto de casa. Depois de três anos, essa academia fechou. “Fiquei tão triste que acharam que eu estava com depressão”, diz ela. A aurora de um novo dia para a jovem bailarina começa a surgir quando ela passa no teste para a Companhia Anti Status Quo (ASQ), uma das mais famosas de Brasília. “Era uma companhia de dança contemporânea profissional. Eu nem sabia que estilo de dança era esse, mas hoje esse é meu estilo. Conheci várias cidades, dançamos em Londres, comprei um carro e um computador. Dancei profissionalmente até os 26 anos e fui muito feliz como bailarina”, lembra Dani.

Assim que chegou em São Sebastião, em 2006, já atuando como nutricionista, Dani observou muitas meninas na rua. “Os meninos ainda jogavam bola, soltavam pipas, mas as meninas pareciam ociosas. Quando achei um local emprestado, juntei umas amigas e limpamos tudo, instalamos espelho, barra de balé e reunimos as primeiras 25 meninas”, conta Dani.

 

O começo da ideia

Certa vez, no final de um espetáculo, Dani sentiu um forte insight no coração: “Eu quero que outras meninas, em situação vulnerável, também possam receber esses aplausos”. Lembrou de uma palestra que assistiu aos 18 anos, com Dora Andrada, fundadora da EDISCA, projeto de Fortaleza, Ceará, que atendia mais de 700 meninas. Na época, ela guardou a semente do Garatuja. Sob a tranquila ação do tempo, a ideia foi amadurecendo até vir à luz no palco, sob aplausos! De lá para cá, a Dani nutricionista e bailarina profissional é dedicada a essa nova dança – uma dança de sabor social.

 

Pedras brutas preciosas

Garatuja significa rabisco de criança. “As garatujas são como as próprias crianças – pedras brutas que podem se tornar grandes obras de arte se bem incentivadas”. Para as meninas de São Sebastião, entrar no Instituto Garatuja é acessar esse polimento, aumentar a autoestima e fazer do rabisco uma linguagem capaz de expressar seu brilho mais luminoso. Além de Dani, que é diretora geral voluntária, há outras co-fundadoras, como a Nityama e as diretoras ex-alunas que cresceram no Garatuja. Em todas pulsa a certeza de que a dança é um meio de transformação social.

 

Transformando vidas

O Garatuja é dirigido por mulheres e feito para mulheres. A ideia, segundo Dani, é oferecer um ambiente bem feminino para que elas falem de menstruação, por exemplo. Mas nem sempre é por meio da fala que elas se expressam. Já houve casos de automutilação descobertos pelo jeito que elas se movimentavam. “O Garatuja é meu projeto de vida. Meninas tímidas como eu era, algumas sem postura, olhando para baixo, que aos poucos, com a dança, ganham uma postura mais confiante para enfrentar seus medos”. O Instituto tem 62 alunas, uma lista de espera com 100 nomes e se mantém com a contribuição de amigos, familiares e apoiadores. Em 2023, recebeu dois prêmios como mulheres de destaque na cultura: FAC Mulher e Inspirar (Instituto Neoenergia).

“Aqui nós seguimos valores cristãos sem falar de religião. Valorizamos o conceito tradicional de família e somos movidas pela honestidade e pela sinceridade entre as alunas, professoras, diretoras e familiares”, diz Dani. O cuidado com o meio ambiente, com o espaço e com o próprio corpo fazem parte da agenda diária. As garatujas aprendem a ser responsáveis, organizadas, a cuidar do uniforme, a ter disciplina, a ter compromisso na frequência das aulas.

 

Desafios e alegrias

Em 18 anos de história, o momento mais complicado foi em 2020, quando o Instituto fechou por conta da Pandemia – funcionando apenas na versão on-line. “Entrei em profunda depressão e senti a importância do Instituto em minha vida. Nessa época, já tínhamos espelho, móveis para a biblioteca, ar-condicionado, piso de dança e muitos livros que ganhamos. Tiramos todas as coisas e levamos para minha casa. Em 2021, tivemos uma grande vitória. Conseguimos comprar uma Sede para o Instituto e logo retornamos com as aulas”. Dani é assertiva ao dizer que as alegrias são imensuráveis e que, de alegria em alegria, os desafios desaparecem no ar. “Há pouco tempo, temos uma nova alegria ao começar um trabalho com as mães. A mãe é a base de uma casa. Se a mãe está bem, toda a família fica bem”.

 

Sonhos

As meninas ficam de cinco a seis anos no Garatuja. Quando possível, são encaminhadas para profissionais parceiros na Odontologia, Psicologia, Fisioterapia e Fonoaudiologia. “Sempre sonhei em atender 700 meninas, como a Dora atende lá na EDISCA, em Fortaleza. Também sonho poder dedicar mais tempo ao Instituto, para atender mais, mantendo a qualidade. Tenho mais sonhos: fazer a Faculdade de Dança e ter uma companhia de dança profissional”, confessa Dani.

 

Caso de sucesso

Um caso de sucesso que Dani gosta de citar é o percurso de Maria Alice, diretora administrativa financeira do Garatuja. Ela entrou aos 10 anos de idade, foi bailarina do grupo de dança do Instituto e descobriu, durante uma aula, a profissão de fisioterapeuta. “Vemos sua vontade de aprender. Hoje ela é casada e leva sua filha para o Garatuja enquanto trabalha. Estamos formando mulheres líderes, decididas e aptas para o mercado de trabalho com responsabilidade e honestidade, seja qual for o meio em que elas forem atuar”.

 

Mensagem para novos líderes

“As tempestades são menores que os sonhos. Desistir nunca é a solução. No Garatuja sempre foi assim. Quando as portas fecharam, conseguimos a Sede própria. Não deixem o Garatuja morrer. Quando ficar difícil, respeitem o corpo de vocês, respeitem a mente, busquem ajuda, descansem, mas não desistam. A tempestade sempre passa. Em nosso último espetáculo, o tema foi ‘Mulheres Inspiradoras’. No palco, as meninas contaram a história das mulheres que inspiram suas vidas, como as avós, mães e professoras. O público saiu emocionado. Não vejo nada mais concreto do que a sensibilização através da arte. ‘Gota no Oceano’ foi outro espetáculo. Cada gotinha de esperança que a gente coloca na vida das pessoas faz uma grande diferença. Mantenham o passo firme e constante como aprenderam nas melhores coreografias que já dançaram”, conclui Dani.

Instituto Garatuja de Dança e Cidadania. Ponto de Cultura de São Sebastião 

Atividade principal: Dança contemporânea, balé clássico, incentivo à leitura e oficinas de multiletramento para meninas de 7 a 14 anos.

Idealizadora e diretora geral: Daniela Couto

Endereço: Quadra 19, lote 56. São José

Oficinas: Segundas, quartas e sábados 

E-mail: garatujaprojeto@gmail.com

Material extra:
Espetáculo Mulheres Inspiradoras 2023
Jornal de Brasília
Correio Braziliense
Agência Brasília
Entrevista TV Globo
S2News
Espetáculo Florescer UnBTV
Divirta-se Mais