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Eliza Soares (D. Eliza)

Instituto ACESSO

 

“Sou uma pessoa muito rica sim, na graça de Deus! Rica de amigos, de cuidado, de saúde. Tendo saúde, tudo se ajeita”. (D. Eliza)

 

A letra de uma canção junina diz “no céu brilham estrelas, na terra brilhamos nós”. Para aqui na terra brilhar, travamos grandes batalhas. Não é esse o caso de D. Eliza, pois ela é uma estrela que caiu na terra. Enquanto muitos sofrem da angústia de não saber qual seu propósito na vida, D. Eliza é aquela mulher plena da certeza de saber exatamente o que veio fazer. Ela afirma, com uma convicção capaz de emudecer os ouvintes, que nasceu para ajudar os outros: “se eu não ajudar, não sou ninguém”. Ouvi-la falar não é somente ficar sem voz, é também lacrimejar e sentir tremer o coração. Ela e sua obra emocionam.

O Instituto ACESSO (Associação Cultural Esportiva e Social de São Sebastião), fundado por ela em 2008, atende hoje cerca de 300 alunos em aulas de violão, balé, informática, dança de salão e artesanato. “A gente não tem como atender mais. Ultimamente, não saio, nem fico sentada lá fora por não termos mais vagas para o balé, nem para o violão”, revela D. Eliza, sentindo-se um pouco culpada: “tem criança que chega chorando, pedindo uma vaga, já arrumada para aula, mas não posso aceitar. Temos 83 crianças no balé, dos 4 aos 12 anos, em quatro turmas. Não imaginava ver o Instituto crescer tanto”.

 

Exemplo dos pais

D. Eliza mora em São Sebastião há mais de 40 anos, mas chegou em Brasília um pouco antes. Nasceu na cidade de Januária, em Minas e começou sua busca por trabalho a partir de Belo Horizonte. Como tinha familiares em Brasília, atendeu ao chamado deles para morar na capital do país.

Mulher da lavoura, D. Eliza sabe plantar mandioca, milho e o que der e vier: “sou aquela pessoa que sabe fazer de tudo na roça. Um dia, pedi mandioca a um amigo para servir o caldo das crianças no Instituto. Ele falou: claro, só arruma um homem para arrancar as mandiocas. Eu mesma arranquei. Sei plantar, colher, tirar a tapioca, fazer farinha, tudo que eu pegar, faço com facilidade”.

Podemos dizer que essa disposição para trabalhar é uma herança de família: “aprendi desde criancinha com meu pai e minha mãe. Meu pai se casou duas vezes, somos 21 irmãos e ele adotou mais três. Sua vida era trabalhar e ajudar, nunca ia em boteco beber. Era meu maior exemplo. O meu sentido da vida é ajudar o próximo e isso não me cansa. Levanto às seis horas e vou até dez da noite sem cansar”, diz ela.

 

Da mandioquinha ao balé

D. Eliza se vê como uma agricultora social, comparando a experiência de fundar o Instituto com o ato de plantar mandioca. Sim, ela planta sementes em pessoas: “de um pauzinho de mandioca, em um ano tem aquele monte de raiz. E aí a gente faz farinha, polvilho e tanta coisa que quanto mais se olha, mais se encanta! Tem tudo a ver com o Instituto. De uma mandioquinha, a gente tem uma super plantação unida. A frase na camisa do Instituto é: Integração Cultural entre Gerações, e no desenho você vê os bonequinhos todos unidos”.

Os valores que sustentam o empreendedorismo de D. Eliza são assumidamente cristãos. Há mais de 40 anos ela é figura atuante na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, junto aos vicentinos: “conheço São Sebastião de ponta a ponta e sei de suas carências. A ideia do Instituto foi a voz da minha vocação para ajudar; até me chamavam de Madre Tereza”. Ela volta no tempo para detalhar o começo: “era para ser só uma sala de computação, uma sala de recursos e outra para dentista e médico, mas a Anvisa não liberou porque aqui é minha residência. Aí iniciamos com aula de violão, dança, pintura de tela e, de repente, começou a crescer”. Honestidade é a base dos valores que D. Eliza ensina: “o meu sim é sim. O meu não é não. Tem que ter valor, ter princípios e saber valorizar as pessoas do jeito que são, pois somos todos iguais”.

 

Deus capacita e provê

Em relação aos patrocinadores, D. Eliza responde que tudo vem da Fonte Maior: “Deus manda as pessoas para ajudar. Eu não tinha como fazer a casa para o Instituto, então, um grupo de amigos veio aqui, conversa vai, conversa vem e em seis meses minha casa estava montada lá em cima e o Instituto aqui embaixo. Quem fez foi o Paulo Henrique, um anjo que Deus mandou para nos ajudar em São Sebastião. Transformar minha casa no Instituto foi um milagre”.

Todos que trabalham no Instituto são voluntários, tocados que foram pela energia de querer servir. Ela explica que a vontade de ajudar é uma energia de amor que não vem da mente, mas brota do coração: “as pessoas veem seriedade e transparência em nosso trabalho, conversam com a comunidade e ficam diante dessa realidade de carência. Toda ajuda, mesmo pouca, Deus multiplica. Tem dia que não tem café e chega uma pessoa com a doação. Não tenho o lanche para as crianças e aparece, não tenho o pão e ele chega. Deus capacita e providencia tudo. Não se pode lamentar, só temos que agradecer”.

 

Metade com amor, outra metade por amor

Ver senhoras de 80 anos que tinham medo de pegar no mouse e hoje navegam na internet é uma das maiores alegrias de D. Eliza. Seus dois filhos, Pedro e Juliano, participam ativamente de tudo. Pedro é o atual presidente do Instituto e cuida das redes sociais. Juliano trabalhava no Banco e agora é professor. “Um dia, ele contou de um aluno que pediu licença para levar um pouco da galinhada da escola para a mãe. Isso acabou com ele. Pediu minha ajuda e fizemos tudo para ajudar. Era uma família com 17 pessoas em um barraco. Hoje essa família está mais estruturada. Meu filho viu que essa é a realidade de São Sebastião e que nós temos que ajudar”, conta.

 

Desafios, alegrias e sonhos

O desafio maior é o dinheiro. Porém, mesmo sem, as turmas não fecham: “quando penso que não tem dinheiro, as ajudas vêm”, garante D. Eliza, revelando que seu maior sonho é aumentar o espaço para atender à crescente demanda da comunidade: “esse sonho está na mão de Deus. Ele está na frente. Tudo que aprendi foi com o trabalho do dia a dia, da oração – tudo é coisa de Deus”. E sua maior alegria é ver os resultados: “às vezes, chego na igreja, vejo os meninos tocando, eles que não sabiam pegar no instrumento e aprenderam tudo aqui. Vou a uma festa e vejo o pessoal que tinha medo e não sabia dançar, dançando perfeitamente e se divertindo. Isso é alegria e gratidão!”.

 

Descanso de corpo e alma

Muitos que passaram pelo Instituto agora têm uma profissão, aprenderam a ajudar, saíram da depressão, encontraram um sentido para a vida. Uma senhora deixou a cadeira de rodas, outra curou um câncer, outras pararam com o remédio para pressão, colesterol alto, começaram a dançar e hoje quase não precisam de remédios. “Recebi um testemunho tão bonito de uma senhora dizendo que a dança tinha mudado sua vida. O professor de violão diz que não pode parar de dar aula senão fica deprimido. Aqui é um espaço que tem de tudo um pouco. Tem esperança, distração, descanso, ensino. Tem um advogado que chega com o violão e diz: Dona Eliza, eu vim descansar. Vou tocar violão e relaxar”.

Recado da D. Eliza

D. Eliza é uma mãe-coruja de todos: “a gente vê o amor nas meninas do balé”. Interação é a palavra-chave de seus conselhos: “interajam com seus filhos, saiam, conversem, cuidem, coloquem o filho no colo, porque se vocês não cuidarem, o traficante cuida. O filho que dança, que toca um violão, uma flauta, não vai pegar em arma”.
Sua mensagem para as novas gerações é que assumam e continuem esse legado: “tem que confiar em Deus e colocar a mão na massa, sem medo. Todos nós somos capazes, só depende de nós. Fazer o bem é algo que não tem preço, não importa a quem”.
Portanto, o recado de D. Eliza está escrito no brilho que deixa por onde passa. Está no sorriso da criança que achou uma direção na vida, no alívio da mãe que viu o filho sair da rua, na alquimia que ela faz na comunidade. É ou não é uma estrela que caiu do céu?

Instituto Acesso

Atividades: Oficinas de violão, balé, forró, dança do ventre, artesanato e informática para a comunidade.

Fundadora e coordenadora: Eliza Soares Santana Rodrigues (Dona Eliza)

Contato: (61) 99682-0406/ WhatsApp: 3543-4986

Endereço: Rua 44, casa 490. Centro

Atendimento presencial: Segunda a sexta das 8h às 18h

E-mail: institutoacesso2013@gmail.com

Material extra: Portfolio Instituto Acesso