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Viviane Xavier

Chinelo de Couro

 

“Eles fazem parte de minha vida de uma forma gigante”. (Viviane)

 

Viviane nasceu em Brasília. Aos cinco anos, chegou com os pais em São Sebastião, que na época era uma agrovila. Aos 14, entrou para a Via Sacra, evento realizado por fiéis católicos da comunidade. Sentiu-se tão amparada que, 22 anos depois, tornou-se coordenadora do evento, agora sob a direção do Instituto Cultural Chinelo de Couro. Para oferecer teatro, dança, esporte, cultura e religião aos moradores de São Sebastião, Viviane e seu marido Gildivan fundaram o Instituto, em 2002, que hoje mantém três projetos: a Quadrilha Junina Chinelo de Couro, o Grupo Caminhando com Jesus na Via Sacra e a Sociedade Esportiva Cavalo de Aço – tudo 100% grátis. “Só queremos que os jovens saiam das ruas, percebam que é possível ter diversão sem beber, fumar ou usar drogas. Eles só precisam vir. Aqui somos uma grande família!”, diz Viviane.

“As poucas casas da agrovila não tinham muros e a gente passava para os vizinhos com facilidade. Acordava de madrugada para ajudar meus pais na fila do balde, pois só havia uma torneira que dava água, uma vez por semana! A gente corria nas ruas, se machucava nas pedras, ficava cheia de barro, ia para a escola com lama até o joelho, em tempos de chuva. Apesar da precariedade, foi uma infância de muitas brincadeiras”, relembra Viviane.

 

Na minha quadrilha só tem gente que brilha

Movida pela vontade de compartilhar o amparo recebido na Via Sacra, Viviane e o marido começaram a quadrilha junina, animados pelo poder que as brincadeiras juninas têm de resgatar nossa cultura. A quadrilha é um expoente brilhante dessa alegria. Quem já assistiu um espetáculo da Chinelo de Couro, saiu de bochecha doída de tanto rir das maluquices do padre Zezo, de Timbó e seu jumento ou de Tertulinho brigando com Zé Paulino pelo coração de Candoca. O encantamento se estende para todos os quesitos de um super show: coreografia, cenário e figurino impecáveis. Mas a purpurina mais rara dessa quadrilha não é vendida em armarinhos. Esse brilho maior vem da alegria genuína de quem faz parte de um projeto que não começa nem termina em uma noite de São João.

 

Brincadeira é coisa séria

Gente é feita para brilhar e rua não é lugar de ficar. Viviane explica que a intenção é fazer com que os jovens se ocupem dentro do Instituto, que saiam das ruas, evitem as baladas e não se percam em desvios: “por volta de novembro, começa a agenda de ensaios da quadrilha, que emenda com a Via Sacra e temos treinos contínuos da escola de futebol. É assim o ano inteiro. Eles se envolvem em tudo, seja na produção de nossas redes sociais, seja no suporte para os novatos ou em qualquer outra coisa”. O ambiente no Instituto é permeado de afetividade e os problemas são enfrentados com diálogo: “hoje é difícil fazer amizade, vemos tanto bullying, briga e confusão, que os jovens acabam se isolando ou se desviando de um bom caminho”.

 

Quem entra não sai

Quando um jovem chega pela primeira vez no Instituto, mal sabe ele ou ela que está começando a escrever uma nova história em sua vida, sem data para terminar. “Muitos não estão mais aqui porque levantaram voo e fazem faculdade. Outros têm filhos que já estão conosco. Essa é minha grande alegria, ver que a família só cresce”, diz Viviane.
Os novatos aprendem com os próprios colegas sobre os acordos do lugar: “não aceitamos violência, nem bebida alcoólica. Quem chega vai moldando esses comportamentos de abraçar, dar as mãos uns aos outros e compreender, lá no coração, que é a nossa união que faz a nossa força. Conhecemos 90% das famílias ligadas ao Instituto. Só de olhar para cada rostinho, percebo se está bem ou não. Eles me procuram para conversar, contar seus problemas e sonhos”.

 

Tornei-me uma pessoa melhor

Nem sempre Viviane foi assim: “antes do Instituto, eu era uma pessoa de paciência curta, espevitada; com eles aprendi a ser mais calma, a ter paciência, a sentir melhor o problema do outro. Passei quatro anos tentando engravidar e tive dois abortos. Quando fiquei grávida da bebê que hoje tem dois meses, eu logo contei para eles. Pensa em uma torcida de final de Copa. Foi assim: agora vai, agora vai!”, conta sorrindo.
Desafio é a peça que não falta nos tabuleiros da vida. Basta começar o jogo. Viviane conta que só tinham mesmo a cara e a coragem quando ela e o marido decidiram começar esse jogo. Tudo saiu do próprio bolso, até obterem recursos da FAC e construírem a sede. “Nosso sonho é poder aumentar a sede, pois está bem pequena e não comporta mais o tanto de jovens, nem abarca nossa meta de promover cursos e abrir mais para a comunidade”.

 

Pedras que viraram pó

Das pedras no caminho inicial só restou o pó que os chinelos de couro levantam enquanto dançam o jogo da vida. Ela conta sobre os primeiros dias: “o local era um barraco. Foi preciso trabalho braçal mesmo para carregar e despachar tanta coisa”, diz Viviane, lembrando que o chinelo é feito de couro e pegar no pesado é fichinha para os chineleiros: “se eu disser que é preciso quebrar pedra às três da manhã, pode contar que três da manhã a galera toda está na porta”, garante.

Viviane pede que a sociedade abrace os jovens: “eles precisam ser valorizados e saber que existe um caminho legal para crescer com saúde e diversão; saber que ninguém consegue fazer nada sozinho. Digo sempre que o Instituto não sou eu, nem a diretoria, mas todos eles”.

As palavras brincadeira e brincar têm origem no latim vinculum. Essa raiz comum explica o destino de uma boa brincadeira: vincular os brincantes em torno de uma alegria. É o que Viviane e o Instituto fazem, dançando a alegria de viver ao abraçarem a juventude de São Sebastião.

Quadrilha Chinelo de Couro

Atividade principal: Apresentações e competições de quadrilha em festas juninas de todo o DF.

Coordenadora e coreógrafa: Viviane Xavier 

Endereço: Avenida Comercial, casa 29. Residencial do Bosque

Site: https://www.institutochinelodecouro.com.br/

E-mail: chinelodecouro@gmail.com