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Kennya Mara Oliveira

Enlace das Arteiras

 

“Cada um tem um pouquinho para dar. Aí você junta tudo e dá uma coisa maravilhosa”. (Kennya Mara)

 

À sombra de um pé de jamelão, muitos sonhos foi tecendo a bióloga que nasceu e passou sua infância no Cruzeiro Novo, brincando com bolinhas de gude e carrinho de rolimã. Assim Kennya Mara foi bordando, em seu coração, a verdade de que o bom da vida é estar junto. Isso ficou tão bem marcado como proposta de vida que ela nem entende como tudo foi dando certo, uma vez que não tinha consciência de sua própria força e espírito de liderança. “Foi uma surpresa para mim conseguir juntar tantas pessoas, enfrentar os desafios e criar o Enlace das Arteiras. Foi coisa de Deus mesmo, sabe? Acredito muito na força que as mulheres têm, no otimismo, no poder do pensamento, das palavras, da união”, diz Kennya.

 

Oportunidade na crise

Após o doutorado em Ciências Florestais, Kennya chegou a trabalhar na sua área, como assessora na Adasa. Depois resolveu ficar mais tempo com os filhos em casa e logo veio a pandemia. “Fiz muita coisa nesse período e me reinventei. Comprei uma máquina de costura, costurei, estudei Reiki, fiz curso on-line de monitoria no Instituto Federal de Brasília (IFB) e aí surgiu a história dos biscoitos. Sempre gostei de cozinhar e, nessa busca por fazer o que me dava prazer, resgatei a receita de biscoito de minha mãe”. Ela conta que a família completava a renda da casa com esses biscoitos. Aprendeu a fazer ajudando a mãe e ganhou experiência vendendo os biscoitos na faculdade (UNB) e em outros locais. “Comecei a fazer os biscoitos, fui aprimorando, doava para os vizinhos e amigos que pediam mais e perguntavam: por que você não vende?”. Com demanda e oferta estabelecidas, era só apertar o play para o negócio acontecer.

Kennya fez isso. Mergulhou por seis meses nos cursos do Sebrae, abriu uma MEI, criou a logomarca com a ajuda do filho e se inscreveu no edital do Co-creation Lab. Deu certo. Em seguida, veio à tona uma antiga vontade de trabalhar com material reciclado. “Sou ligada nessa ideia desde minha carreira na academia e decidi pôr em prática com um grupo de cinco meninas, entre elas uma Engenheira Florestal que mora aqui no Mangueiral e outras do meu condomínio. A gente se inscreveu de novo no Co-creation e ganhamos o primeiro lugar no IFB”.

 

O laço foi crescendo

“A mulherada foi se juntando e veio o convite para participarmos da Ecofeira, no Centro de Práticas Sustentáveis do Mangueiral, aos sábados, das 9h às 14h. Também veio o projeto Nossa Quitanda, que reúne diversas artesãs, incluindo matriarcas como Dona Juraci dos bordados e Edilza do crochê. Trata-se de uma iniciativa da professora Vera Bueno, do IFB, que hoje é madrinha das arteiras. O espaço da Nossa Quitanda tem de tudo: artesanato, biscoitos com embalagens recicladas, peças como chaveiros e tampas de crochê, peso de porta etc. Lá nós estamos toda quinta, de 15h às 19h. Convidaram-me para ser coordenadora e eu aceitei”.

O nome Enlace das Arteiras surgiu desse enlace que foi crescendo. “Abrimos três alas no Enlace: uma de artesanato e trabalhos manuais, o brechó e a cozinha afetiva. Algumas feiras só pedem produto autoral, aí todo mundo tem que entender, só vai artesanato. Estamos com a ideia de formar um bufê para agregar o máximo que pudermos, juntando as meninas que fazem comida, as artesãs de arranjos florais e as costureiras que fazem coisas belíssimas para decorar uma mesa”.

 

Um laço puxa outro

Kennya reconhece que não sabia ser capaz de unir tanta gente. O fato é que um laço puxa outro e a força do coletivo se manifesta: “Às vezes, a gente vai para a feira e não vende nada, aí uma anima a outra. A mulher é muito forte quando se une. Eu recebo tanta mensagem linda, vocês não têm noção do tanto que isso engrandece a minha alma”. Com a voz trêmula, Kennya nos fala sobre o impacto do aconchego das arteiras: “D. Ilma é uma viúva aposentada que vem aqui, a gente conversa, toma café e chá com biscoito, dá risada, é muito bonito. E D. Irene me achou não sei como. Ela tem 80 anos e está bem debilitada depois de uma cirurgia, mas tem muito amor pela vida e continua fazendo uns trabalhos lindos com os vidros. Tem também Dona Júlia, uma senhorinha de São Sebastião que vende pães caseiros, biscoitos e bolos deliciosos. Ela gosta muito de estar com a gente. Nossa união aqui é muito bacana”, sussurra emocionada.

 

Enlaçadas para transformar

A porta das arteiras está sempre aberta, garante Kennya. Basta ter criatividade e vontade de se enlaçar. “Às vezes, a gente nem sabe que sabe alguma coisa, mas quando se reúne, acaba descobrindo os talentos que tem. Vivemos num modo automático tão grande que essas coisas não fluem”, observa. Com relação à comunidade, ela declara que as arteiras vivem no estilo tudo-junto-e-misturado, considerando essas três regiões: São Sebastião, Jardim Botânico e Mangueiral. “A gente aqui em cima precisa deles lá embaixo e eles lá precisam da gente aqui. Deve ter umas dez meninas de São Sebastião, umas dez daqui do Mangueiral e umas dez do Jardim Botânico. Essa união é importante e não há discriminação”.

 

A pegada ecológica

“O condomínio Jardins Mangueiral onde moro tem essa pegada sustentável. No início, meu esposo era síndico e conseguimos fazer uma linda decoração de Natal só com garrafas PETs. Fazíamos reunião para reutilizar óleo de cozinha e produzir sabão para todos os moradores. Até que eu falei: gente, agora vamos reunir todo mundo. Hoje somos cerca de 30 mulheres e meu sonho é formar uma associação e poder agregar mais e mais mulheres do Jardim Botânico, São Sebastião e Jardim Mangueiral”.

 

Recado de arteira

“Eu quero dizer que não foi fácil chegar aonde eu cheguei, mas quando você se apega a Deus e tem clareza de suas intenções, as coisas acontecem com uma facilidade incrível. O principal é ter esse potencial de unir as pessoas, de estar junto, de construir junto. Não sei se vocês me entendem, mas é muito fascinante”.

 

Enlace das Arteiras 

Atividade principal: Oficinas de artesanato e feiras de exposição dos produtos locais e itinerantes de um grupo de artesãs da região.

Idealizadora: Kennya Mara Oliveira Ramos

Endereço:

CPS – Centro de Práticas Sustentáveis do Brasília Ambiental – IBRAM 

IFB – Campus São Sebastião

Exposições: 

Nossa Quitanda IFB- Campus São Sebastião: Quintas das 15h às 19h

Ecofeira no CPS- Jardins Mangueiral: Sábados das 9h às 14h

Email:  kennyamaraoliveiraramos@gmail.com

Material extra:

Potfólio Enlace das Arteiras
Portfólio Ecofeira
Portfólio Nossa Quitanda