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Aline Karina de Araújo

Sebas Turística

 
“Quando você sabe de onde que você é, você consegue ir para qualquer lugar”. (Aline Karina)

 

A ligação de Aline e São Sebastião começou bem antes do Sebas Turística. Apesar de ter nascido em Taguatinga, suas memórias de infância vêm da São Sebastião rural de décadas atrás. Tomar banho de córrego, brincar com as galinhas e correr no mato são lembranças animadas das visitas ao seu tio, morador da região que já foi chamada de Fazenda Papuda.

“Por incrível que pareça, quando adolescente, o único lugar onde consegui trabalho foi aqui, em São Sebastião, em uma escola de inglês. Aí voltei para cá”, conta Aline, sorrindo do fluxo turístico de sua própria vida. Quem sabe essas idas e vindas estavam formatando sua alma de turismóloga?

 

Como tudo começou

Aline entrou na Universidade de Brasília (UNB) para estudar Turismo e criou o Sebas Turística como projeto de conclusão de curso: “Desenvolvi uma metodologia através de mapeamentos e comecei a identificar os potenciais turísticos para trazer as pessoas e falar da importância histórica de São Sebastião. Afinal, 90% dos tijolos que foram fabricados na construção da capital saíram daqui. O Guia que produzimos mostra onde comer, onde se hospedar e onde ficam as áreas de lazer”.

Enaltecer os lugares positivos de São Sebastião é o coração dessa ideia que travou algumas batalhas. O Sebas Turística completou oito anos e hoje é bem aceito, mas como toda novidade, enfrentou resistências. “Quando falamos em fazer turismo aqui, a primeira reação foi nos chamarem de loucas. Zoavam da gente dizendo que a galera viria tomar banho nos buracos do São Sebastião”, lembra Aline. “Só que a gente veio na perspectiva diferenciada de promover um turismo de base comunitária. Acredito que, a partir do momento em que temos uma visão clara do que queremos potencializar, todo lugar é turístico”.

Mais de 500 pessoas conheceram São Sebastião por meio do Guia, que tem mais de 100 pontos em rotas de apelo cultural, ambiental e social. “Nossos recursos vêm da gente mesmo, da renda de visitações. Tivemos uma consultoria do Sebrae para criar nossa identidade visual. O nome ‘sebas’ já era carinhosamente usado pelos jovens, que gostam de falar ‘vamos lá em São Sebas, nas quebradas de rocha’. Aí a gente pegou sebas e transformou em turística”, explica Aline.

Se quando criança ela turismava entre Taguatinga e São Sebastião, depois de grande Aline profissionalizou essa dinâmica. “Eu tenho uma agência de turismo chamada Círculo Cerrado Eco-Turismo, desde 2016, sempre com essa pegada do turismo de base comunitária, do afroturismo”.

 

A base que veio da terra

O primeiríssimo tijolo do projeto Sebas Turística foi, literalmente, um tijolo. Não qualquer um, mas o tijolo da Olaria de Dona Leontina, que hoje se transformou no local mais visitado. Segundo Leontina, “antes de Aline chegar com esse projeto, ninguém via, não olhava para cá e nem sabia da minha existência. Hoje, graças ao Sebas Turística, consigo entender a minha importância”.

A partir das visitações à Olaria Veredas, de Dona Leontina, o movimento só cresceu e as pessoas começaram a perceber que o turismo é uma ferramenta de transformação social. Apesar da mídia dar mais manchete aos aspectos negativos, Aline redireciona a atenção do público para tudo de bom que existe em São Sebastião: “A gente reconhece os problemas, mas quando enaltecemos o positivo, ele se potencializa e se transforma em algo maior”.

 

Valores que sustentam

Aline se empolga quando fala em território de afetividades. “Não tem como construir o Sebas Turística sem a gente se identificar. Esta cidade me acolheu e temos muitos apegos sentimentais. Quem foram esses pioneiros? Não existe uma história única. Valorizar a face histórica e cultural da cidade é o que me impulsiona e foi fundamental para o sucesso do projeto”.

Em busca das histórias de vida que compõem esse acervo, o turismo de vivência foi ganhando espaço. Alunos de São Paulo vêm conhecer Dona Leontina, que os recebe com um café caprichado enquanto solta sua prosa cheia de riqueza. “É um turismo de afetividade, né? A gente aproxima e transforma as pessoas”, considera Aline.

“Tivemos um aluno que foi ao Instituto Congo Nya e saiu de lá chorando. Ele falou: caramba, isso aqui me pertence, faz parte da minha história e eu nunca tinha ouvido falar. Ou seja, esse turismo traz o impacto de pertencimento e dá visibilidade. Aqui tem o Beco do Metamorfose, onde o artista Chico Metamorfose fez vários muralismos de teor político e cultural e causou uma transformação social. Um trabalho recente e lindo dele foi desenhar os moradores do bairro vítimas da pandemia. Ele eternizou essas pessoas. Sebas Turística mostra que esses locais são turísticos e têm o poder de fazer nascer novas visões de vida”.

 

Museu de Território

“Para tudo precisamos de recursos. Imprimir um guia, montar um roteiro, ter um fotógrafo junto, fazer um vídeo, contratar transporte. Então, precisamos divulgar esse projeto que é diferenciado e muito legal”. Um dos muitos sonhos de Aline é ter um Museu de Território, em São Sebastião, para preservar esse patrimônio cultural. “Os jovens teriam aulas de educação patrimonial e a gente faria uma ponte conectando com o Instituto Congo Nya para terem uma vivência de valorização da cultura negra. Aqui tem uns córregos maravilhosos, poderíamos revitalizá-los, ter um local lindíssimo e mostrar para o Brasil e para o mundo inteiro como a gente transformou um local abandonado em um caso de sucesso no Turismo, a partir de um Turismo Comunitário”.
Outro local que as pessoas gostam de ver, de acordo com Aline, são as históricas cerâmicas: “Infelizmente, uma delas foi demolida, a Cerâmica Nacional, mas tem a Cerâmica Arte. Seria incrível transformar a Cerâmica Arte no Museu de Território. As crianças poderiam ver as máquinas que estão lá desde a época da construção, as torres gigantes de tijolos, os fornos que ainda estão lá…”.

Aline lembra que o Turismo movimenta uma importante cadeia produtiva: “Cultura, economia e turismo andam de mãos dadas. Não tem como falar de cultura ou de turismo sem a perspectiva econômica. A preservação é importante, mas se ninguém vai lá, não é viável. Quando a gente chama a atenção de algum lugar, o poder público começa a enxergar que é importante e pode viabilizar um fluxo turístico, criar políticas públicas e atrair investidores. Então sim, o turismo é um grande rol de possibilidades”.

“O turismo diferenciado gera o impacto da visibilidade nas pessoas”, ela explica. “A percepção de que são visíveis e importantes gera um sentimento de pertencimento. A partir disso é possível criar ações de preservação do local e transformar vidas. “Quando a gente fala de cultura de preservação, a galera não compreende que a cultura envolve desde uma questão de uma identidade cultural, de falar ‘eu sou negra’, de etnia, até o saber fazer um tijolo”.

 

Recado da Aline

“O que a gente tem de mais verdadeiro e real é a nossa própria história. Se não valorizarmos e preservarmos nossas raízes e a nossa memória, a gente fica sem rumo. Quando valorizamos tudo isso, conseguimos ter uma base forte para qualquer coisa que precisemos fazer. Meu recado é nesse sentido: dê valor às suas raízes, porque quando você sabe de onde que você é, você consegue ir para qualquer lugar. Preservem as pessoas porque elas são museus. Quando morre uma pessoa de forte valor cultural, quantas memórias e histórias morrem junto com essa pessoa? É um museu que morre. Então, preservem nosso patrimônio cultural! ”, conclui Aline Karine.

 

Sebas Turística – Organização de turismo de São Sebastião 

Atividade principal: Turismo Cultural

Diretora geral: Aline Karina de Araújo Dias

Endereço: Olaria Vereda

Agendamentos pelo site: https://turismoforadoaviao.com.br/

Email: sebasturistica@gmail.com

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