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Hellen Frida

Casa Frida e Frida Lab

 

“Transformar a dor em arte e espalhar amor por toda parte”. (Hellen Frida)

O acróstico FRIDA é uma composição poética das bandeiras que Hellen vem abraçando desde antes de sua chegada em São Sebastião, aos 22 anos. Eis a síntese da luta que sustenta a Casa Frida e o Frida Lab: Feminismo, Revolução, Igualdade, Diversidade e Amor.

Quando vivia na Bahia, ainda como Hellen Cristhyan, entrou na UFBA para a 1ª turma do Bacharelado Interdisciplinar em Comunidades, aos 17 anos. Era um curso tão inovador que ela ajudou a elaborar o Projeto Político-Pedagógico, inspirado em Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darci Ribeiro. Quando soube dessa formação, Hellen pensou: “é isso que tem a ver com o que acredito de mundo” e virou militante. Divulgou o curso em várias cidades, animada pela percepção de que suas inquietações tinham por onde desaguar e fluir. “Nunca fui de ficar em uma caixinha. Não consigo dizer que sou uma coisa só. Hellen Frida é isto: um monte de coisas”.

Ao chegar em Brasília, Hellen percebeu a carência de casas de acolhimento, em especial para mulheres e LGBTs. Esse foi o primeiro impulso que fez surgir a Casa Frida: sem recurso, sem estrutura, mas com boa vontade e coragem. “Sempre há alegrias em meio aos desafios e a principal tem sido a alegria dos encontros, da gente conseguir se abraçar e dizer para as pessoas que não temos resposta para nada, mas temos muitas perguntas. O que pode melhorar em nosso cotidiano? Quais são os seus sonhos em relação a esta comunidade?”.

 

Tudo pode melhorar

Os projetos de Hellen sempre nascem de perguntas. E se São Sebastião fosse pensado, organizado, produzido, gerido, idealizado por mulheres? Na lista dos problemas da cidade, falta uma universidade federal e são poucas as escolas de Ensino Médio. Hellen ressalta: “Tem o Instituto Federal de Brasília (IFB) e entra ano e sai ano temos que lutar pela continuidade do IFB aqui. Faltam creches públicas e calçadas. Cadeirantes e mães com carrinhos de bebê não têm como transitar. É o básico, né?”.

Não existe um centro de cultura, ainda que São Sebastião seja uma das cidades de Brasília que mais tem potencial artístico cultural. Hellen cita Donas da Rima, Atitude Feminina, Coletivo Supernova, Radicais Livres, Reggae na Praça, o Garatuja e tantas cantoras e cantores. “Muitos esportistas saem de São Sebastião, ganham fama no Brasil e não são valorizados”, diz ela.

 

Arte por toda parte

É provável que nossos fantasmas e dores venham à tona diante de realidades tão duras. Hellen relembra que muitas meninas adoeceram com o trabalho na Casa Frida e decidiram ser doulas, educadoras populares, promotoras. O espaço também recebia imigrantes que viajavam o mundo com a mochila nas costas e a coragem no bolso, inspirando algumas meninas a saírem para conhecer o mundo. Por mais difícil que seja compreender e aceitar, as dores também têm sentido. Quando conseguimos virar essa chave, a transformação acontece. É essa a proposta das instituições Frida: transformar cicatrizes em percursos de vida. Hellen destaca que, com a pandemia, a Casa Frida teve que pausar suas atividades por um tempo.

 

E assim nasceu o Frida Lab

O apoio da iniciativa privada possibilitou o retorno das ações, desta vez com o Frida Lab, inaugurado no dia 31 de março de 2024, como um braço voltado para as tecnologias, com serviços de manutenção para computador e celular. Hellen confessa que ainda estão assimilando a relação entre a tecnologia e as reais necessidades da comunidade, em especial quanto ao uso da internet para acessar os direitos da população de baixa renda. Outra pauta do Frida Lab é como lidar com o excesso de celulares descartados no lixo comum. “Nosso desafio atual é colocar 10 receptores de lixo eletrônico pela cidade, protegidos do sol e da chuva. Estamos mapeando locais e parceiros”.

 

Fazer sentido em tudo que faz

O Frida Lab vai promover vários cursos gratuitos, com destaque para o de informática, com a expectativa de atender cerca de 300 alunos por ano. Como a Casa Frida, o Frida Lab tem a missão de transformar vidas e traz, no seu DNA, a ideia de fazer sentido em tudo que faz. Por isso, as salas homenageiam mulheres que fizeram história naquele segmento. A sala de saúde integrativa, por exemplo, foi nomeada Nise da Silveira. A sala de comunicação é Pagu. A biblioteca é a sala Carolina de Jesus. No andar térreo tem a cozinha Bela Gil, com alimentação saudável.

A iniciativa cultural mais recente do Frida Lab é o projeto Mulher Arte. Com o intuito de promover o crescimento pessoal e profissional de mulheres que lidam com arte, cultura e empreendimentos criativos, o projeto vai oferecer oficinas de capacitação em arteterapia, escrita criativa, gestão e produção cultural, vídeo popular, empreendedorismo, economia solidária e teatro político. A proposta é clara: por meio de uma abordagem interdisciplinar e multiforme para trilhar o autoconhecimento, as participantes poderão elevar a autoestima e fortalecer vínculos comunitários.

“Transformar a dor em arte e espalhar amor por toda parte resume o que somos aqui. A dor, seja ela física ou social, sempre vai existir. Mas como fazer para que nossas dores não contem quem a gente é?”, conclui Hellen, sempre com uma pergunta na linha de frente.

Lembrando o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900), somos demasiadamente humanos para construirmos histórias livres de cicatrizes. Se essa é a realidade, que o sonho possa ser a capacidade de construir histórias a partir das transformações. Afinal, somos bem maiores que nossas dores.

 

Frida Lab 

Atividades: Oficina de teatro político, vídeo popular, artesanato, arteterapia, podcast, cadernos artesanais e escrita criativa para mulheres. Além de curso gratuito e aberto para comunidade de informática e designer, manutenção de computador e reparo de celulares. 

Fundadora: Hellen Frida

Endereço: Rua 09, casa 11. São José

Funcionamento: Segunda a quinta das 8h às 17h

Email: contatofridalab@gmail.com